Juntei suas mãos e as
beijei em sinal de libertação e paz, o coração queria agarrá-lo em forma de
proteção para que nenhuma lágrima caísse, mas o enfrentei deixando-o pianinho
sem que dele saísse nenhuma nota e assim o destino pudesse ser seguido da maneira
mais correta, ainda que pareça fria eu tremia quente, mãos suavam e ar faltava.
Lágrimas caíram, inundaram nossos silêncios gritantes por fim.
Amanheceu, meus
braços ainda têm seu cheiro e as pontas dos meus dedos procuraram seus cabelos
para afagar. Mesmo com a camiseta larga e de calcinha fui até a sacada, acendi
o cigarro dando um trago longo, o único. Lembrei-me que detesta quando fumo,
fiquei ali sentindo a brisa gelada em meu rosto e pernas e aos poucos
derrubando as cinzas no canto. A mente tenta processar tamanha mudança mesmo
que decidida há vidas passadas foi repentina. Moça criada em família de baianos
porretas e de palavra eu não poderia ser diferente e sair da
linha, foi preciso tirar todo aquele peso do coração para deixar a
consciência limpa, a faxina havia sido adiada por meses, sua chegada se fez na
hora errada...
Mal havia tirado o pó e estava ajeitando tudo aqui dentro, mas
estava me observando distantemente próximo, bateu palma suave e gritou meu nome
de forma tão carinhosa como nenhum outro até então. Não podia dar em outra, eu
leonina de ego ainda arranhado logo para inflar abri as portas para você, seu
sorriso largo e jeito menino mesmo que homem, sacodi as cortinas abrindo as
janelas para que juntamente de sua luz própria a do sol também adentrasse.
Aqueceu meu peito e espírito, me fez sorrir como nunca.
Grandes ensinamentos me
passou entre uma careta e piada de baixo nível intelectual, cá estou boquiaberta
interrogativa sobre o destino da vida. Viver é isso? Ter que deixar solto o que
tanto ama e por destino ter que seguir em frente deixando para trás uma
preciosidade incrivelmente rara e pura? Eu quero um advogado! Cá estou
indefesa, por mais que saiba que fiz o certo ainda estou interrogativa. De
coração leve levemente me calo entre reticências, tremo frio e de mãos soando
quentes recordo-me do teu riso, eu o amo. Por isso irei manter-me distante sem
tocá-lo para garantir sua integridade fiel. Saudade mutua de quando as decisões
que tomava não doíam, como quando pulei em seu colo e tasquei uma bitota gelada
após tomar sorvete. Te sujei e rimos.
Cá estou boquiaberta sussurando... Ah menino, o que vier da vida aceite,
pois o propósito é bem maior que possamos compreender. Cá estou boquiaberta sem
tom entre reticências. Que Ele nos guie, que nossas rotas se cruzem e que eu te
veja ainda mais feliz, tu merece o céu. Cada nuvem e estrela, tu sempre será
minha estrela.
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