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16 de set. de 2014

Cá estou boquiaberta





Juntei suas mãos e as beijei em sinal de libertação e paz, o coração queria agarrá-lo em forma de proteção para que nenhuma lágrima caísse, mas o enfrentei deixando-o pianinho sem que dele saísse nenhuma nota e assim o destino pudesse ser seguido da maneira mais correta, ainda que pareça fria eu tremia quente, mãos suavam e ar faltava. Lágrimas caíram, inundaram nossos silêncios gritantes por fim. 

Amanheceu, meus braços ainda têm seu cheiro e as pontas dos meus dedos procuraram seus cabelos para afagar. Mesmo com a camiseta larga e de calcinha fui até a sacada, acendi o cigarro dando um trago longo, o único. Lembrei-me que detesta quando fumo, fiquei ali sentindo a brisa gelada em meu rosto e pernas e aos poucos derrubando as cinzas no canto. A mente tenta processar tamanha mudança mesmo que decidida há vidas passadas foi repentina. Moça criada em família de baianos porretas e de palavra eu não poderia ser diferente e sair da linha, foi preciso tirar todo aquele peso do coração para deixar a consciência limpa, a faxina havia sido adiada por meses, sua chegada se fez na hora errada... 

Mal havia tirado o pó e estava ajeitando tudo aqui dentro, mas estava me observando distantemente próximo, bateu palma suave e gritou meu nome de forma tão carinhosa como nenhum outro até então. Não podia dar em outra, eu leonina de ego ainda arranhado logo para inflar abri as portas para você, seu sorriso largo e jeito menino mesmo que homem, sacodi as cortinas abrindo as janelas para que juntamente de sua luz própria a do sol também adentrasse. Aqueceu meu peito e espírito, me fez sorrir como nunca. 

Grandes ensinamentos me passou entre uma careta e piada de baixo nível intelectual, cá estou boquiaberta interrogativa sobre o destino da vida. Viver é isso? Ter que deixar solto o que tanto ama e por destino ter que seguir em frente deixando para trás uma preciosidade incrivelmente rara e pura? Eu quero um advogado! Cá estou indefesa, por mais que saiba que fiz o certo ainda estou interrogativa. De coração leve levemente me calo entre reticências, tremo frio e de mãos soando quentes recordo-me do teu riso, eu o amo. Por isso irei manter-me distante sem tocá-lo para garantir sua integridade fiel. Saudade mutua de quando as decisões que tomava não doíam, como quando pulei em seu colo e tasquei uma bitota gelada após tomar sorvete. Te sujei e rimos. 

Cá estou boquiaberta sussurando... Ah menino, o que vier da vida aceite, pois o propósito é bem maior que possamos compreender. Cá estou boquiaberta sem tom entre reticências. Que Ele nos guie, que nossas rotas se cruzem e que eu te veja ainda mais feliz, tu merece o céu. Cada nuvem e estrela, tu sempre será minha estrela.

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