Páginas

26 de ago. de 2013

O alguém que eu quero bem



O  alguém que me acompanha no jantar me olha e disfarça, eu faço graça e rimos contendo os dentes por educação. O cara da mesa ao lado não tira seus olhos da minha direção, ele nota isso e sorrateiramente segura minha mão firmemente por alguns minutos. Isso para que o cara tenha a ideia de que sejamos algo que aquela pegada firme sugira, eu noto a situação e me faço corada no exato instante, firmo minha mão na dele com a esperança que elas se acostumem e tomem o mesmo rumo após o jantar. Poderia assim se seguir por todas as refeições e além delas. Firmo meu olhar ao seu na tentativa inocente de desvendar sua atitude, uma competição com o macho ao lado ou sentimento juntado de desejo acumulado? O alguém é nitidamente misterioso como a noite fria que se fazia lá fora, mantida encolhida no meu casaco e ainda de olhar firme no seu eu só conseguia sorrir cabisbaixa e aumentar o meu querer por aquele alguém. Um alguém que eu quero bem. Perto. Junto. Colado. Ainda que disfarçado, mas ao meu lado. Não sei qual imagem passamos naquele restaurante com mãos firmes que mesmo após a saída do cara da mesa ao lado permaneceram unidas, pouco tempo depois mais soltas com os dedos a brincarem e se entrelaçarem. A imagem que mantive em mente foi concreta comparada á que por meses eu vinha embaralhando a cada encontro nosso e meu deitar, ele não deve saber disso para que a imagem que tem de mim como moça companheira seja mantida intacta, mas que com uma carona até o portão da minha casa seria explorada além dos meus cabelos, pescoço e nuca. Rir contendo os dentes nunca foi o meu forte e faço-me de fraca diante dele que mesmo com papo bem traçado tem manha na graça, eu que raramente sinto fome ando caçando desculpas para o convidar para jantar na prese que nossas mãos se esbarrem e dedos se entrelacem, não precisamente naquele lugar, qualquer que seja e que encontremos um outro qualquer que me olhe aflorando seus instintos a procura das minhas mãos e quem sabe corpo. Mesmo que não encontremos ninguém que seja eu esse alguém que o aflore nitidamente com o meu acanhar de sorriso cabisbaixo que irá se inclinar em seu horizonte. O alguém talvez me queira bem e seja o mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário