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18 de abr. de 2013

A que se lota e ainda transborda




De tanto querer falar para que ele me escutasse em vão me pronunciei amargamente e as paredes foram minha única plateia, não muito humanas, pois no fim nada observaram, falaram ou muito menos aplaudiram como deveriam - até mesmo vir de encontro á mim me oferecendo colo diante de meu quase pranto. Talvez se pudessem teriam se retirado do local me tirando qualquer forma de atenção naquele momento que eu tanto precisava. Que plateia melhor eu poderia ter se não eu mesma? Ele de tão vazio vivia pelos bares da cidade enchendo e esvaziando copos e taças para que elas se igualassem a ele. Eu me loto com tamanha facilidade, sem precisar da ajuda de ninguém. Só precisou passar por minha frente naquele mesmo bar que usa para se esvaziar de preferível forma hoje, só precisou passar por minha frente para me lotar por toda uma vida. Houve olhar, fala e tato. Houve olho no olho, boca na boca, mãos em corpos, beijos e cheiros. Houve muito resultando em nós, muitos de tão pouco. Nada ele, tudo eu. Eu me loto com tamanha facilidade, loto de palavras e silêncios, mares e rios. Lotei-me, lotou-me horas depois começou a procurar suas roupas e relógio em meio a madrugada e eu estirada ao seu lado. Hoje cá estou estirada no centro das paredes de meu quarto, um café preto e quente com um frio esvoaçante que encobria todo o local apesar das cobertas da cabeça aos pés que me encobriam. Me cobri em um ato desesperado de cuidado e segurança, um tanto quanto tarde, percebi. A mania de me lotar cedo e me cobrir tarde, essa sou eu: A que se lota e ainda transborda. Falo para mim em meio a interrogações, respostas argumentativas e exemplificadas com marcas pelo meu corpo, alguns roxos e riscos de um ser bruto. Falo num silêncio que mesmo lotando o quarto não era capaz de me esvaziar, muito pelo contrário, me lota e transborda. Era para ser só mais uma transa como tantas outras que eu já tive, que quase beijos não tiveram para evitar tamanha aproximação e envolvimento facilitando o sumiço da manhã seguinte. Mesmo com seu esvaziamento ao procurar suas coisas para ir embora e não mais voltar ou de mim lembrar, ao encontrar se virou para mim e me olhou curiosamente e de forma carente, veio até mim entrelaçando seus braços por todo meu corpo e assim ficamos embalados até o finzinho de tarde do domingo. Ele resolveu comigo se lotar e se fartar. O dia sempre nomeado como tedioso daquela vez havia passado longe dessa definição pobrezinha, seu gesto fez exaltar meu domingo como um todo até mesmo quando ele passou pela porta sorrindo de canto e com olhar de quem voltaria no fim do dia seguinte. Esperei em vão olhando para aquela porta que nunca se abria, não era batida ou com campainha tocada, nada. Por volta dás 21 horas abri a porta e lá estava apenas o jornal matinal. Por que esse embalo se ele não pretendia ficar para a semana seguinte, a outra, outra e mês, ano e vida... Hein?! Embalou esse meu transbordamento de cobertas, café, palavras e silêncios. Embalou um transbordamento meu, mente e corpo recolhida dentro desse quarto que em vão me pronuncio amargamente as paredes, aplaudo essa minha falta de atenção e mar de palavras. Só precisou passar por minha frente para me lotar por toda uma vida, certamente levarei mais do que deveria para me esvaziar sem transbordar ao ouvir seu nome. Houve muito, hoje há saudade, muita saudade.

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