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28 de out. de 2012

Contador e doutora em sentimentos







Por ser contador ele trabalhava e via números em tudo que é lado e eu doutora em sentimentos apaixonava-me facilmente por quem passasse em minha frente. Ele correu a rua por números, eu o vi e apaixonei-me naquele instante. O vento levava meus cabelos em sua direção, de forma incrível me via atraída por todo seu corpo. Ele era o conhecido clichê "tipo certo da maneira errada". Em pleno século vinte e um seguia o pensamento: Pegar e não assumir. Pegou-me. Sem assumir compromisso algum desde o primeiro momento, claro. Fogueteiro, lançou-me fogo do carro ao seu apartamento que sugestivamente me convidava para entrar. Jogou-me violentamente na mesinha de centro da sala de estar, escorregando até o sofá. Uma vez. Derrubamos as almofadas sem consciência alguma no chão e junto á elas fomos também. Duas vezes. A porta da varanda estava aberta, lá estava a mesa de sinuca e em seguida eu em cima dela e ele em cima de mim. Três vezes. O vento soprava forte e eu reclamava do frio que sentia, colocou-me em seus braços correndo até seu quarto, jogando-me em sua cama. Quatro, cinco, seis, sete vezes... Mesmo não trabalhando com números como ele, mas por gostar de números ímpares parei por ali, estava tonta após tantas vezes tremer as pernas, revirar os olhos e puxar todo ar que me faltou em todas as vezes, parei de contar, parei por ali. Sete. Senti. Por ser doutora em sentimento apenas senti. Seu peito suado me pressionando, suas mãos grandes me apalpando, seus lábios sugando todas as partes do meu corpo. Senti-me desejada, por apenas a carne. Forte desejo.

Contador como se vê em sua carteira de trabalho resolveu contar e descrever quantas vezes a porra saiu dele para outras que entraram em seu apartamento, falava-se mais de mil passando por sua cama, me confundiu com mais uma delas, mas eu não era da mesma laia. Pelo menos eu acho que não era, não admito ser, nunca fui e muito menos gostaria, eu sou doutora em sentimentos e isso quer dizer que eu sinto, sentia a falta de fôlego quando ele abria seu sorriso, pegava-me firme pela cintura puxando-me até ele iniciando uma dança até a cama. O som era tido como as respirações ofegantes e leves gargalhadas dele para mim ao ver minha face envergonhada. Eu era jogada e usada, ao pé da letra. Usada feito uma calculadora de seu escritório, passeava seus dedos por meu corpo em forma de informações onde queria resultados exatos no final, resultados esses que ele manipularia para seu absoluto prazer. Eu diria 1+1= 2 e ele -1x³, eu não entendia de números. Gozou baskaramente Δ = b² - 4ac. Sorriu. Ele era o contador e eu a doutora em sentimentos, só isso. E exatamente por isso eu entendi tendo certeza que ele não tinha e nunca havia pensado ou entendido absolutamente nada além de números.

O quarto todo fedia a porra amanhecida, olha que eu havia ficado fora da cidade por cerca de um mês. Ele não perdia tempo algum, importava-se com quantidade e não qualidade. Exatamente por isso que prefere as mulheres da vida pelas ruas do que a mim. Moça direita que toda mãe sonha para o seu filho, moça que se emociona ao ver um pôr-do-sol, que mesmo com idade maior tem medo do escuro e procura o celular rapidamente para se acalmar, liga para o chamado "benzinho" durante a madrugada enquanto fantasia pesadelos bobos, monstros verdes e o que mais a deixava apavorada: Uma ida sem volta para ele. Ao escutar sua voz em meio ao sono se acalmava no exato instante. Decidi correr o mundo, mundo esse que havia se tornado ele, por isso dei apenas uma volta no quarteirão e voltei. Ao seu apartamento, cama e braços. Me entreguei de corpo e alma, de mãos beijadas. Foi aí que ele entendeu o tesouro que havia recebido, até mesmo sem merecer, beijou-me incontrolavelmente. Eu o amava desde quando o vi correr a rua por números, ele começou a me amar ao sentir dentro dele um sentimento crescer por mim.

Após o crescer de sentimentos dos dois, aumentou os números pela mesinha de centro da sala de estar, sofá, almofadas derrubadas conscientemente no chão, a varanda junto a mesa de sinuca, seu quarto e fielmente sua cama. Em todo canto do nosso casulo havia rastros do quanto eu o amei, o quanto o amo. O quanto nos amamos em meio aos números e sentimentos avulsos. Feito abelhas produzimos a doçura que nos enlaçava entre báskara e equações não produzidas.

2 comentários:

  1. Meu Deus que textoo é esse eu amei.O blog está nos favoritos já.

    Beijos Tati.

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    1. Fico muito feliz que tenha gostado do texto haha Volte sempre Thati! Beijos.

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