Bê

A cada vez que rompíamos o laço do nosso relacionamento eu não queria mais laçá-lo. A cada volta aos braços dele eu não queria mais nenhum rompimento forçado daquele laço que nos envolvia naquele sentimento todo. Era não querendo que eu queria e toda vez que nós brigávamos eu rezava ao céu que me deixasse longe dele. Dos telefonemas durante a madrugada, das mensagens de texto durante todo o dia com pedidos banais de desculpas, suas ironias e silêncio, menos dos ramalhetes de flores brancas que ele me mandava a cada final de tarde, o que me deixava com aquela frase na ponta da língua pronta para ser pronunciada: "Volta bê..." Tudo não passava de um final de semana e o meu bê voltava, ou era eu? Nós voltávamos ao sofá apertado e cochilo de conchinha. Aos fones de ouvidos que dividíamos enquanto estávamos deitados um em cima e pelo outro. Voltávamos já imaginando quando eu gritaria e bateria o pé novamente como de costume, ele me ligando durante a madrugada e eu sem atender, ele deixando uma pilha de relatórios em sua mesa de lado no trabalho para me mandar mensagens de textos com os banais pedidos de "volta" e que ele voltaria em um piscar de olhos meus - caso o trânsito não atrapalhasse, enquanto ligava para a floricultura perto do meu consultório onde ele era cliente de fidelidade desde quando ele percebeu que comecei a me render com flores. Questionava-me se eu valia apenas um ramalhete de flores brancas e logo em seguida antes mesmo de concluir esse pensamento que me assombrava eu era interrompida quando ele me olhava abrindo o sorriso mais branco e perfeito que eu já havia visto em toda minha vida. Em forma de acalanto ele dizia que era meu e me amava. O bê me tinha em suas mãos, que passeavam por todo o meu corpo continuamente. Era bê, cê, dê, todo o alfabeto com ê, ê bê!